Crítica...

O ator-diretor mineiro Ernane Alves é um talento que não teme a expansão de seu universo criativo. Em Crunch (2008), seu mais recente filme curto, ele mantém aquele giro formal libertário que dava o sopro narrativo de Confissões de Olavo (2007), um filme longo; mas aquela metralhadora de irregularidade amadorística da narrativa longa se assesta melhor em Crunch e chega a uma experimentação visual e sonora cuja estética em alguns momentos arrebata o observador.No começo de Crunch a personagem de Felipe, vivida com desembaraço e intensidade por Ernane, está falando sobre as teorias do comportamento do próprio universo, enquanto sua acompanhante, a quem ele diz amar, lhe lança olhares ali entre o curioso e o entediado. Importam mesmo as grandes teorias universais sobre a composição e as manifestações da matéria? Ou só servem mesmo para esta desiludida poesia do tédio (Michelangelo Antonioni?) que o protagonista exibe em suas andanças pelas imagens, especialmente em alguns monólogos-over feitos em inglês mesmo (como no curta-metragem gaúcho O passageiro obscuro/The soul detective, 2008, de Davi de Oliveira Pinheiro, a internacionalização vem um pouco do uso da língua inglesa como segundo suporte, um fato cinematográfico bilíngue). Crunch desde seu título tem um pouco de onomatopéia. Em inglês “crunch” significa mastigar e o som da palavra traz um pouco disto: uma ruminação constante, o que converte um tanto esta forma no próprio assunto do filme, ruminações. Isto é, o próprio filme mastiga suas ruminâncias, vai-se comendo a si próprio como a personagem que faz o barulho com a batata frita na boca atrapalhando a leitura concentrada de sua acompanhante. Crunch é um filme-roedor de consistente composição. A sequência final em que Ernane vive a agonia e o fim de sua criatura é um fenômeno de expansão do intérprete. E, vamos adaptar o conceito físico, traz a densidade crítica para dentro da poesia do tédio.
Porto Alegre, Sábado, 07 de Março de 2.009.
Eron Fagundes
Crítico de Cinema
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